Diálogo para teatro filmado*
Professora, professora, vinha a correr, quase caía!
Diz, Maria? Diz!
Tenho tudo pronto, tudinho. Podemos? Podemos?
Podemos claro. Maria! Calma.
Não posso professora, não posso. Como de resto também a professora não pode.
Há coisas que são maiores do que nós, não é Maria?
Também o sabe professora!
Eu já o sei há uns aninhos. Mas tu Maria, como o descobriste tão cedo?
Não sei dizer. Foi chegando. É como uma música que se anicha em nós e nos faz florir.
É essa também a tua relação com o texto?
Oh! Com o texto não. Com o texto tenho uma relação adulta.
Adulta?
Tenho-lhe medo. Amo-o.
Como assim Maria?
Sei bem quem o escreveu. Foi o Camilo Castelo Branco.
E por isso tens-lhe medo? E por isso o amas?
Bem sei que é estranho, ter medo e amar, assim, sobre a mesma coisa. Mas é como eu consigo dizer o que o texto me fez.
Mas! Maria. Assim fico preocupada. Acaso pensas que o Camilo quer que os seus leitores tenham medo e amem os seus textos?
Preferirá que os amem. Em estando bem escritos… mas o meu medo é um medo bom.
Medo bom?
Sim…
Explica!
Tenho medo por ser do senhor Camilo Castelo Branco e porque não quero falhar nem uma sílaba.
Maria!
Diga professora.
Vamos lá a estabelecer uma coisa! Camilo não se zanga porque lhe tiras uma vírgula do sítio. Camilo sabe perfeitamente que mais não fazemos que falhar.
Sim professora…
Sabes porquê? Não é o falhar que importa.
O que seria pior professora?
Não estares aqui hoje para tentar.
Mas eu estou.
Por isso Camilo sorri contigo. E eu também, e rio e choro contigo Maria.
A Maria é a atriz; a voz off na filmagem é a da professora. Sobre texto de Camilo Castelo Branco.